12 anos depois, 12 mortos e 12 feridos na Columbine de Realengo

Wellington, o assassino cruel. Vítima da sociedade?

Por Alexandre Madruga

Impossível não relembrar da tragédia retratada por Michael Moore, em seu documentário “Tiros em Columbine”, onde dois adolescentes mataram 14 estudantes e um professor na Columbine High School. Pensar nas diferenças do massacre americano e da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, me assusta mais.

Lá foram dois autores para 15 mortes, 25 feridos. Aqui, um autor para 12 mortes, 12 feridos. Mas o detalhe que o assassino daqui continuaria a matar, se não fosse a sorte de ter a PM fazendo uma blitz por perto. Imagine se tivesse que acionar o 190. Quantos mais ele teria matado? Certamente teríamos o maior massacre em escolas do planeta. Senão, vejamos:

– 1966: Universidade do Texas, vitimando 13 pessoas;

– 1997: Escola em Paducah, no Kentucky, 11 estudantes mortos;

– 1998: Colégio em Jonesboro, Arkansas, 4 alunos e um professor mortos;

– 1999: Escola secundária Columbine em Littleton, Colorado, 13 estudantes mortos;

– 2008: Northern Illinois University, 5 alunos vítimas fatais;

– 2011: Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, 12 mortos.

Torço para que as vítimas fatais da escola de Realengo não aumentem, mas o mal está feito. Muitas crianças morreram, em sua maioria meninas adolescentes.

Teorias que vão da religião ao bullying tentam entender os motivos do jovem Wellington. Em tempo, bullying ”consiste em qualquer atividade que perturbe e incomode o outro, em demonstrações de desrespeito e falta de consideração. Termo específico para ser aplicado a tudo que acontece na escola”, como explicou a professora do Instituto de Psicologia da UERJ e Chefe do Serviço de Psicologia, Maria Luísa Bustamante, em entrevista ao O GLOBO. (08/04/2011; Caderno Especial: Massacre em Realengo; p.6).

Religião também veio em questão. Contudo, apesar das discriminatórias indicações ao Islamismo, confirmou-se que o assassino freqüentava as Testemunhas de Jeová, que, inclusive, não se pronunciou ainda. Pensar no Islã ofende aos mais de 1,5 milhão de muçulmanos que vivem no Brasil. Necessário lembrar aos desavisados que o Alcorão não prega a violência. Aos extremistas que cabe a interpretação errônea e deturpada dos textos de Maomé.

De certo, o jovem assassino não vinha bem por muito tempo. Sem acompanhamento especializado na sua formação estudantil e familiar, já que os pais que vieram a falecer (a mãe recentemente), passou pela adolescência e entrou na fase adulta sem um regulador, uma mão firme. Perdeu-se. Criou seu próprio mundo, com regras surreais, mistura de religiões, credos e conceitos (assim como preconceitos), que formou o cidadão desumano que matou cruelmente crianças, meninas que buscavam seu futuro.

Nos jornais de TV, rádio e impresso, todas as pautas caíram, devido ao relevante assunto. Mortes de crianças sempre se tornam uma prioridade. Do jeito que foi, “parem as máquinas” diria o editor. Reformulemos tudo. Foi assim o Jornal O Globo com encarte especial e o Jornal Nacional, com Fátima Bernardes conhecendo a Zona Oeste mais a fundo, apresentando o telejornal direto do local do massacre. Inclusive a titular de bancada do JN cometeu um ato falho ao fim do jornal, desejou um “boa noite”, quando em casos trágicos usa-se apenas um “até amanhã”, usado por Bonner no estúdio, quando fechou a edição. Mas é uma falha compreensível, diante da tensão do momento. Anos de experiência não tornam jornalistas menos humanos. Fátima certamente estava emocionada. Enfim, ela é mãe e sabe do que as outras estão sentindo.

As edições de ontem, dia do incidente, foram no geral boas, com algumas doses de sensacionalismo, mas acredito que em dose certa (se é que existe uma!). Já hoje, nas suítes (desdobramentos) do massacre, estou vendo colocarem crianças para darem depoimento, o que acho totalmente desnecessário. Essas já vão sofrer para se recuperarem. Colocá-las nos holofotes, no centro do furacão, não vai ajudá-las na recuperação.

A Prefeitura, direção da escola, Conselhos Tutelares e Juizados Especiais, precisam blindar esses jovens adolescentes, e formarem um grande grupo de apoio para tentar superar e voltarem a estudar. Não se pode espetacularizar esse fato, que envolve mentes jovens, em plena formação, sob pena de perdermos mais dos que já se perderam ontem.

O momento é de esclarecimento. Suitemos nossas matérias buscando a sociedade acadêmica, os médicos especializados e juntos planejar uma maneira de superar, criar ferramentas de prevenção e tentar formar uma sociedade sem bullying e mais esclarecida.

Fatos como o Massacre de Realengo, como deve ficar conhecido, precisam ser vistos como sinais de mudança de uma sociedade aberta à informação em qualquer quantidade, tempo e idade. Ajudar aos pais, ainda pré-virtuais, e situar a todos da nova era da informação, pode ajudar em nosso amadurecimento (e crescimento), sem precisarmos passar por deslizes tão impactantes como das mortes desnecessárias de jovens estudantes.

Temos que fazer de fatos como esse exemplo e tirar proveito para crescermos como ser humanos e uma sociedade mais compreensiva do outro e igualitária.

Deixarmos apenas para os pais a responsabilidade por uma sociedade mais plural e compreensiva é criarmos outros Wellingtons, que sem assistência dentro de casa ou na família, são capazes dos horrores que presenciamos nesse fatídico, e inesquecível, dia 7 de abril de 2011.

5 Responses to 12 anos depois, 12 mortos e 12 feridos na Columbine de Realengo

  1. Laís disse:

    Depois que o sujeito surta de vez, aí não tem quem segure, infelizmente!
    Ele planeja meticulosamente seus atos bárbaros, normalmente, contra inocentes!

  2. karen disse:

    nenhuma religião pode ser culpada pela psicopatia desse cara! ELE ERA DOENTE. FATO!

  3. Fátima Borges disse:

    Concordo inteiramente com o Thiago, a sociedade ajuda a formar o que temos hoje de pior, quando não coibi as más ações de seus jovens, e quando as autoridades os abandonam sem dó nem piedade.
    O que a mídia nos impõe hoje em dia, o que enfiam goela adentro pelas TVs para nossas crianças e jovens?
    Nossa educação é um lixo !

  4. Cynthia Coutinho disse:

    Não adianta reclamar que a sociedade é isso e aquilo. Tem que começar por nós mesmos e tratar melhor as pessoas, só isso.

  5. Thiago Guimarães disse:

    Um sociopata formado pela sociedade que hoje em dia não tem escrupulos e influenciado pela mídia e pelos politicos corruptos que a mesma vota. Isso é apenas a consequência do momento em que vivemos onde não há mais certo ou errado e aparições de pessoas como este, será infelizmente ,cada vez mais comum.
    Sou a favor da educação mais rígida, da proximidade com a familia e da não vulgarização do amor e da formação familiar. Que infelizmente vemos esquerdistas pseudo-intelectuais dizer que hoje em dia já não é mais regra.
    Quero ver eles se manifestarem quanto à isso agora. Esse cidadão é um reflexo da sociedade sem lei , sem regras onde cada um faz o que quer e o que bem entende. Onde não há repressão, muito menos coisas erradas. Vivemos consequências de uma sociedade inconsequente.

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